Fui o último dos netos a ouvir-te respirar. Estavas na cama, tinham acabado de te dar o almoço. Espreitei pela porta, não quis entrar, porque estavas a dormir. Mas não é desse modo que te quero recordar. Claro que não. Nunca.
Sempre me lembro de ti de pés descalços, com baldes nas mãos a levar as leveduras aos porcos. Ou junto ao riacho, a lavar as tripas de um suíno acabado de sangrar. Ou de fazeres pão, no teu velho forno incrustado na parede.
Ainda me lembro bem da tua voz, apesar de achar que nunca foste de grandes falas. Lembro-me dos teus lenços na cabeça e das tuas saias redondas. Também dos teus sorrisos. Mas para que saibas são os teus pés que mais recordo. Marcados por uma vida no campo, cheios de calos e com notórias elevações nos metatarsianos primeiros.
Foi uma vida de campo, simples. Foi assim que chegaste ao fim. Simples, como quem apenas apaga a luz.
P.S.-ela faz isto melhor que eu.
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3 comentários:
tu também fazes isto muito bem. ler-vos emociona-me.
já sabes o que sinto destas coisas. não há palavras...
beijo grande! estou aqui para o que for preciso.
Ai....Resta-me mandar-te um beijinho...
E de repente estivemos todos ali e de repente percebe-se o que é o poder de uma família. E que tudo o resto é tão, mas tão secundário
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