terça-feira, 20 de julho de 2010

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Iker



Fábregas já decidiu. Num instinto e pelo canto do olho. Porque os grandes pressentem. Sabem. A ordem atravessa-lhe o corpo até ao pé direito. A bola segue para Iniesta. Um grupo inteiro corre para a linha de canto, onde o médio dedica o golo a Jarque. Do outro lado, há, porém, um homem só. Como se fosse uma ilha. Como se o mundo à volta tivesse desaparecido. Ou apenas ficado mudo. Está prostrado. De joelhos. Não se lhe vê a cara. Tapadas pelas mãos, sim, de um deus. Ele próprio. A boca nem se consegue fechar. Soluça. Chora. Chora Casillas e chora a Espanha inteira. O capitão sabe que ali, naquele momento, vive o que milhões, biliões, dos que já foram, dos que são, dos que estão por vir sonham alcançar. É campeão do mundo. Sabe-o, mesmo que faltem minutos para o planeta ter certeza absoluta. Sabe-o porque é o melhor. Porque Robben já lhe apareceu pela frente duas vezes. Porque é um super-homem de verde. Porque é santo, como dizem, do lado de lá da península. Chora. E chora. E continua a chorar. Desce à terra. Limpa as lágrimas. Levanta a Taça. É o melhor do torneio. Na zona mista, a namorada. Jornalista. Perguntas que seriam fáceis tornam-se difíceis. Não por serem matreiras. Mas por mexerem com o guarda-redes. As palavras ficam secas. Como conter-se? Como ter quem ama, ali à frente, no dia mais brilhante de uma vida e não poder festejar? «Joder, soy Casillas, e toma lá um beijo, que eu mereço, tu mereces, a Espanha merece e o mundo também». A história de Iker e Sara prolonga-se. É exagerada nos media. Chega a cansar. Mas olho para trás. O título foi espanhol e o país celebrou. Os momentos de Casillas, primeiro a chorar, depois com Sara são apenas dele. E dela. Sim, todo o mundo viu, mas é o arrepio na espinha de um e outro que nunca vamos conseguir sentir. É por isso que Casillas é mais campeão que os outros. Porque mostrou-nos que há mesmo coisas únicas, irrepetíveis. Não falo do título, esse já foi ganho por vários. Mas sim daquele arrepio, daquele ar que não se respira por instantes. De um beijo eterno.

Escreve um homem apaixonado. E por isso, Casillas é o campeão do mundo que mais invejo. Desde sempre.