Sol. Calor. Nada para fazer, tempo para matar. Parei no parque do estádio. Dezenas de pessoas esperavam por um ingresso. Vidros abertos, cd comprado na FNAC a estrear no rádio. Cigarros depois de almoço.
Ela chegou. Parou em sentido contrário. Óculos de sol, relógio sem horas certas. Tudo isto vejo, da minha janela. Passa as mãos pelos olhos, por debaixo das lentes. Pega num pano - antigamente é que as mulheres faziam limpezas para se distraírem, agora é mais gelados, bolo de chocolate ou saídas de gajas para afagar o ego. Digo eu...
Limpa o pó ao carro. Choro compulsivo. Não desvio o olhar.
Só me apetece dizer-lhe: «Anda, vem daí. Dias melhores virão.» Não a conheço, fico calado, claro.
E ela esfrega o tablier como quem limpa a alma. Continuo a olhar.
Abro a porta, saio. Sempre a mesma mão no pano. Está cabisbaixa.
Passo-lhe mesmo à frente. Nem reparou.
Bolas, seja o que for... deve doer.
E isso faz-me bem, estranhamente.
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1 comentário:
Todos temos dias assim...fazem bem, apesar de doerem na mesma proporção!
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